A instabilidade que se apoderou do Mar Vermelho, uma das passagens mais críticas no que toca à acessibilidade global de mercadorias, está na ordem do dia, a reboque do conflito militar que se vive no Médio Oriente.
A instabilidade que se apoderou do Mar Vermelho, uma das passagens mais críticas no que toca à acessibilidade global de mercadorias, está na ordem do dia, a reboque do conflito militar que se vive no Médio Oriente. Em entrevista à RTP, concedida no passado dia 19 de Janeiro, o presidente executivo da APAT, António Nabo Martins, analisou o tema e abordou o impacto, cada vez mais visível, da escalada do conflito no transporte marítimo de mercadorias, e, por arrasto, em toda a cadeia de abastecimento.
«Fretes já aumentaram» devido a tempos de trânsito mais alargados
Não há como negar: «O conflito está a impactar as nossas empresas», vincou o presidente da APAT. «Numa primeira fase temos de referir que os fretes do transporte aumentaram já com alguma relevância. Passado algum tempo desde o início do conflito, o que estamos a sentir é que algumas das mercadorias já têm tempos de trânsito mais alargados porque a viagem prolonga-se (por mais 10 a 15 dias do que quando era feita através do Mar Vermelho) e isso, obviamente, leva a um tempo de trânsito maior e as mercadorias acabam por chegar mais tarde aos seus destinos», continuou António Nabo Martins, antevendo um agravamento das atuais condições.
Disrupção com efeitos similares aos da pandemia no horizonte?
A configuração do panorama logístico poderá mesmo assemelhar-se àquela vivida durante a pandemia de COVID-19. «Se o conflito persistir, cada dia que passa estaremos mais perto de chegar a uma situação parecida com o início da pandemia, no qual era muito difícil prever a chegada e a circulação de mercadorias, principalmente no transporte marítimo», alertou, deixando uma certeza: «Os preços já aumentaram», ilustrando com um exemplo concreto - «um contentor que circulava entre a Ásia e a Europa, e cujo preço deveria estar na casa dos 1000 dólares, neste momento já ultrapassa os 5000 dólares. E isso significa que o preço vai refletir-se no resto da cadeia de abastecimento».
Empresas poderão necessitar de auxílios a breve trecho
Dado este contexto de dificuldade, salientou António Nabo Martins, a fatura deste conflito ainda não atingiu o consumidor final. «Julgo que, neste momento, ao consumidor final, essa consequência ainda chegou, mas, com a manutenção do conflito, irá certamente ter reflexo. Temos ainda de adicionar este alargamento do prazo do transporte entre a Ásia e a Europa», alertou. Já as empresas, vincou, poderão vir, a breve trecho, a necessitar de apoios estatais para lidar com esta situação, «um apoio muito similar ao que foi prestado na altura do COVID-19».