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Lim Ching Kiat: «O sucesso de um aeroporto depende do seu ecossistema»

13 Nov
«Não faz sentido construir um excelente aeroporto mas não o conectar verdadeiramente a parceiros fortes», explica o vice-presidente do Aeroporto de Changi, em Singapura.
O tema não poderia ser mais atual, e, à boleia de uma pertinente reflexão da reputada jornalista do setor dos Transportes e Logística, Dora Assis (Supply Chain Magazine), trazemos aos nossos leitores e seguidores excertos de uma entrevista imperdível de Lim Ching Kiat, vice-presidente executivo do Aeroporto de Changi (Singapura) e que pode ser lida no portal da McKinsey. O que faz um aeroporto triunfar? Que estratégias e planeamentos fazem a diferença? Como projetar e entender a envolvência da infraestrutura na simbiose com o seu ecossistema?

Estas são perguntas que requerem uma abordagem analítica, profunda e multidisciplinar, quase sempre distante - qualitativamente - das ideias mais repetidas no mainstream comunicacional e político, mas muito mais perto da real fórmula do sucesso, baseada na intermodalidade e multimodalidade, na complementaridade de estratégias sócio-económicas e na visão que dá primazia a um ecossistema onde as infraestruturas se integram, mutuamente, tendo como finalidade a operacionalização sistemática e a valorização de todos os stakeholders.

Infelizmente, o setor da carga aérea está, em Portugal, longe destes desígnios. Se em 2023 a APAT sentiu a necessidade de dinamizar a criação do Fórum Nacional de Carga Aérea, com o intuito de dar voz a um segmento de transporte que parece estar apenas 'idealizado' para passageiros e que negligencia as potencialidades do transporte aéreo de mercadorias, em 2025 a situação não encontra evolução, mesmo que as notícias de um novo aeroporto pareçam encorajar a comunidade; mas, na verdade, o quotidiano das empresas que importam e exportam diz outra coisa.

O colapso do handling nos aeroportos portugueses - recentemente criticado pela APAT - tem sido visível e reflete uma degradação que prejudica a conectividade, a projeção das empresas e a competitividade global do país. Cargas adiadas, ausência total de funcionalidade e um futuro próximo com poucas respostas para as (muitas) perguntas que teimam em ser formuladas. À luz do conteúdo da entrevista de Lim Ching Kiat, pergunta-se: será um novo aeroporto suficiente para trazer a tão esperada evolução ao setor da carga aérea? A resposta direta é: não.

Os transitários são um dos mais precisos barómetros da economia de um país: quando a sua atividade se obstaculiza, a 'máquina logística' emperra e os índices de competitividade das empresas baixam. Se o gestor do transporte de mercadorias se vê rodeado de entraves, a logística, por si, torna-se um labirínto, e, mais cedo do que tarde, todos os agentes económicos sofrem. Na carga aérea, é nesta situação que todos nos encontramos atualmente: inoperância no terreno, carência de infraestruturas e pessoal, e uma falta de pensamento integrado.

Aeroporto deve estar conectado a «parceiros fortes»

Lim Ching Kiat é taxativo: «Para a procura por carga, penso que alguns dos princípios são os mesmos no que toca à procura nos passageiros, na medida em que o sucesso de um aeroporto depende do sucesso do ecossistema como um todo. Não podemos obtê-lo por nós próprios apenas. Não faz sentido construir um excelente aeroporto mas não o conectar verdadeiramente a parceiros fortes», pode ler-se na entrevista. O vice-presidente do aeroporto singapurense refere uma ideia que a APAT defende desde o primeiro momento: «um aeroporto-cidade».

«Uma visão que temos é a de aeroporto-cidade. Não queremos que seja simplesmente uma espécie de 'paragem de autocarro' onde as pessoas vão e vêm. Já dispomos de 'hotéis de aeroporto' mas queremos pensar de que formas podemos ampliar esse conceito. Imagine que poderia ter um apartamento no aeroporto. Ou: porque não podem os escritórios estarem no aeroporto? Podemos até perspetivar uso para bancos ou clínicas de saúde que queiram servir os seus clientes regionais. Com esta ideia, podemos redefinir várias possibilidades», declarou.

e-Commerce deve ser uma prioridade dos aeroportos

Lim Ching Kiat abordou o fenómeno do e-commerce e vincou que, sem um entendimento da importância que representa no comércio global e no impacto que tem na conectividade e prosperidade, torna-se impossível dar às empresas as ferramentas para que estas possam ser competitivas. «Entendemos que o e-commerce tem necessidades específicas, por isso, trabalhamos com os parceiros (companhias aéreas e handlers) para que nos certificarmos que temos as infraestruturas certas e as especializações certas para lidar com esse tráfego. No ano passado, abrimos nova infraestrutura especialmente desenhada para operações de e-commerce pois tem armazéns e acesso à pista», revelou.

Tratam-se de ideias pertinentes que revelam planeamento coletivo capaz de integrar diferentes perspetivas operacionais e os interesses de cada modo de trasporte, de cada ator logístico, de cada cliente em específico e de cada população, com vista à evolução da conetividade, da agilidade operacional e ao progresso do tecido empresarial, que encontra, neste importante interface, um parceiro capaz de projetar o valor das empresas, interligando cargas e clientes. Uma visão que a APAT defende e continuará a defender, em prol do dinamismo económico do país.

Foto: Free-Images.com | Pixabay
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