Intitulada 'A Guerra e os Preços da Globalização', a intervenção de Nabo Martins focou-se nas disrupções que vêm afetando a cadeia logística global e os equilíbrios que a sustentam.
Foi no dia 14 de Junho que, a convite do Politécnico de Portalegre e da UGT Portalegre, o presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal (APAT) tomou o púlpito para, perante uma plateia composta maioritariamente por formandos da instituição de ensino, analisar a temática da resiliência da Cadeia de Abastecimento - em tempos de constante instabilidade - e as consequências que as disrupções globais têm na homeostase das cadeias logísticas e no comércio internacional.
Presidente da APAT em palestra no Politécnico de Portalegre
Intitulada 'A Guerra e os Preços da Globalização', a intervenção de António Nabo Martins focou-se nas sucessivas disrupções que, devido à sua dimensão e impacto, vêm afetando indelevelmente a cadeia logística global e os meticulosos equilíbrios que a sustentam e lhe conferem fiabilidade. Num mundo totalmente globalizado e à boleia de uma economia feita de interdependências, todos os constrangimentos capazes de impactar significativamente a fluidez do tráfego de mercadorias são susceptíveis de provocar, em efeito dominó, efeitos negativos que se repercutem em cadeia, até ao impacto final no bolso do consumidor.
Do COVID às guerras: disrupções sucessivas forçam novos paradigmas
O tiro de partida deste período de acentuada instabilidade geral foi dado com o surgimento da pandemia de COVID-19: o trânsito de mercadorias e pessoas foi gravemente afetado, com várias frotas paradas, negócios em stand by e uma profunda alteração no âmago do ecossistema logístico, que se viu forçado a adaptações incaracterísticas e a novos desiquilíbrios de forças que colocaram em causa o bom funcionamento da estrutura logística global: desde acentuadas assimetrias na relação entre a oferta e a procura, à subida exponencial dos fretes (em particular do frete marítimo contentorizado, que teve impacto direto na atividade transitária), passando pela errática gestão de recursos, patente, por exemplo, na igualmente assimétrica distribuição mundial de contentores.
Lembrou António Nabo Martins que, se à pandemia se havia juntado uma preocupante inflação, em 2022 os novos capítulos trouxeram-nos o conflito militar entre a Rússia e a Ucrância. Os efeitos negativos deste confronto, aliados à política estratégica de isolamento da Rússia, imposta pelo Ocidente, fizeram-se sentir poucos meses depois, com o corte de acessibilidades ferroviárias (que permitiam o tráfego direto de contentores entre o mercado oriental e a Europa) a dificultar o fluxo de cargas entre continentes e a provocar um aumento transversal dos preços (desde os cereais até à eletricidade). Um exemplo simples de como pode a guerra prejudicar, de forma imediata, a estrutura logística, e, por arrasto, aumentar o custo de vida das populações.
Como se uma guerra não fosse suficiente, uma outra (re)ganhou tração, provocando epifenómenos que conduziram à tensão total no Mar Vermelho - na sequência do escalar do conflito entre Israel e o Hamas, os rebeldes Houthi semeiam, desde o final de 2023, o pânico e a incerteza nesta importante passagem marítima entre os continentes africano e asiático. Os vários ataques a navios porta-contentores vêm forçando as transportadoras marítimas a encontrar rotas alternativas (e mais seguras) para os seus trajetos: tais desvios resultam em maiores tempos de trânsito, e, por conseguinte, fretes mais elevados. António Nabo Martins ressalvou isso mesmo aos microfones da RTP em Janeiro passado, recordando que este custo poderá acabar a ser transferido para o consumidor.
Se o panorama global vem sendo minado por grandes focos de tensão e instabilidade, como as guerras ou as pandemias, capazes de afetar, de uma assentada, milhões e milhões de pessoas, não são de ignorar os micro-fenómenos que, de foram localizada, foram deitando mais areia para a engrenagem da Logística e da Economia Mundial. Na sua exposição, o presidente executivo da APAT abordou alguns, desde o bloqueio do Canal do Suez (via marítima crucial para o tráfego de navios), em 2021, até ao incidente que, em Março de 2024, fez colapsar a Ponte de Baltimore (EUA), após choque de um navio num dos seus pilares. Ambas as situações resultaram em interrupções graves nos normais fluxos de mercadorias, resultando em perdas assinaláveis.
«Nunca a resiliência das cadeias logísticas foi tão debatida»
«Nunca a resiliência das cadeias logísticas foi tão debatida e a sua importância tão reconhecida por todo o mundo. É essencial que se compreenda que todos os constrangimentos são passíveis de abrandar o ritmo das trocas comerciais, vitais para que os produtos cheguem ao seu destino a tempo e horas e, claro, a um preço acessível. As pessoas e os negócios dependem deste equilíbrio logístico, no qual os transitários são absolutamente fundamentais. É por isto que a Logística Preventiva começa a ser amplamente discutida, Quando se vive, como todos nós vivemos, numa Economia Global, todos os fenómenos inesperados irão gerar consequências negativas e temos de saber lidar com as mesmas sem perder fluidez nem agilidade», comentou Nabo Martins.
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