Votar é um acto simples: um direito crucial e dever cívico de todos. Já a Logística por detrás das eleições...nem tanto assim.
Aproximam-se as
eleições legislativas de 18 de Maio: os portugueses voltam às urnas pouco mais de um ano após terem eleito o executivo liderado por Luís Montenegro. Chamados novamente a decidir os destinos do país, os eleitores preparam-se para escolher as forças políticas que conduzirão Portugal nos próximos quatro anos. O eleitor faz a cruz no boletim mas a logística por detrás do processo eleitoral é complexa e os bastidores do processo democrático obrigam a procedimentos estratégicos coordenados e meticulosos.
A Logística por detrás do voto
Votar é um acto simples: um direito crucial e dever cívico de todos. Já a Logística por detrás das eleições...nem tanto assim. Trata-se, no final das contas, de um processo intrincado que requer muita antecipação, concertação, coordenação e segurança. A realização de eleições em Portugal representa um desafio logístico de grande escala, que envolve planeamento meticuloso, recursos humanos altamente coordenados e uma cadeia operacional distribuída por todo o território nacional e pelo estrangeiro. Na ausência de tudo isto, é a Democracia que se ressente.
O processo eleitoral é encarado como um momento cívico, contudo, depende de uma infraestrutura invisível mas vital, gerida por entidades como a Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), autarquias locais, forças de segurança e operadores logísticos. Antes do dia da eleição, o processo começa com a atualização dos cadernos eleitorais (nas eleições legislativas de 2022, contabilizavam cerca de 10,8 milhões de eleitores inscritos, dos quais mais de 1,5 milhões residiam fora de Portugal). Esta etapa envolve o cruzamento de dados com o sistema de registo civil, a impressão dos cadernos e a definição das 13.821 secções de voto distribuídas pelo país. 55 mil pessoas compõem as mesas de voto, cuja formação e afetação fazem parte do planeamento logístico essencial.
A produção, armazenamento e distribuição dos boletins de voto e de materiais acessórios constituem um dos eixos mais críticos de todo o processo. Na eleição presidencial de 2021, por exemplo, foram impressos mais de 12 milhões de boletins, contemplando não apenas os eleitores nacionais mas também os que votam por correspondência no estrangeiro. Os materiais são produzidos em gráficas com certificação de segurança e transportados sob escolta até aos locais de depósito intermédio e, posteriormente, para as assembleias de voto. A rastreabilidade e redundância nos meios de transporte — incluindo viaturas especiais e até apoio militar em zonas remotas — são práticas comuns.
No próprio dia da eleição, a operação atinge o seu ponto culminante. A abertura simultânea de milhares de secções exige sincronização absoluta. A distribuição de urnas, cabines, boletins, selos e formulários deve estar concluída na véspera, com confirmação de todos os pontos de contacto. Nas legislativas de 2022, registou-se uma taxa de participação de 51,4%, com mais de 5,4 milhões de votos recolhidos em menos de 12 horas. As plataformas de monitorização operadas pela SGMAI permitiram identificar e resolver incidentes localizados em tempo real, como ruturas de stock de boletins em mesas com afluência acima do previsto - um desafio extra que testa a resiliência dos sistemas.
Outro aspeto relevante sobre o processo eleitoral prende-se com o voto antecipado e o voto em mobilidade. Opções que facilitam a vida do eleitor na hora de votar, mas que juntam complexidade à organização do fenómeno democrático, exigindo esforços redobrados para um funcionamento eficiente e transparente. De assinalar que, em 2022, mais de 315 mil eleitores recorreram ao voto antecipado em mobilidade: um número recorde. Esta opção, logística e tecnicamente exigente, requer a criação de centenas de secções temporárias em capitais de distrito e centros urbanos, com recolha dos votos para contagem apenas após o encerramento geral da votação.
Encerrada a votação, inicia-se a recolha e centralização dos resultados. As atas são digitalizadas e transmitidas eletronicamente a partir das próprias mesas de voto, mas os boletins físicos seguem um percurso seguro até os tribunais da comarca, para verificação legal. A operação de logística reversa inclui a recolha de materiais reutilizáveis e o tratamento dos resíduos — papel, plástico, equipamentos eletrónicos — em conformidade com diretivas ambientais. Assim, a logística eleitoral em Portugal é muito mais do que um suporte técnico: é um garante da confiança no processo democrático. Para os profissionais da área logística, representa um caso prático de operações críticas em ambiente regulado, de elevado impacto social, onde não há margem para falhas.