«O setor dos transportes foi o único que viu as suas emissões de gases com efeito de estufa aumentar nos últimos anos, continuando sem sinais de abrandar», alertou a presidente do AMT, Ana Paula Vitorino.
A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (
AMT) apresentou, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Lisboa, o estudo 'Descarbonização nos Portos, Transporte Marítimo e por Vias Navegáveis Interiores', tido como documento fundamental para os próximos passos estratégicos do país no que concerne aos esforços de descarbonização de um setor tão vital para a Economia, mas que continua a preocupar em termos de índices poluentes.
Os transportes são responsáveis por cerca de um quarto das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) a nível global; tendo em conta o fenómeno da Globalização, totalmente consolidado no mundo em que vivemos e ao qual se juntou o advento massivo do comércio eletrónico, estamos atualmente perante o grande (e urgente) desafio de reduzir os (crescentes) índices de poluição deste setor sem colocar em causa a viabilidade das cadeias logísticas.
«O setor dos transportes foi o único que viu as suas emissões de gases com efeito de estufa aumentar nos últimos anos, continuando sem sinais de abrandar. E o despovoamento e os desequilíbrios sociais e territoriais continuam a aprofundar-se», declarou, durante a apresentação do estudo, Ana Paula Vitorino, presidente da AMT, que abriu a conferência, ao lado de Nuno Sampaio, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação.
Para dar passos firmes na obtenção do Santo Graal da neutralidade climática, perseguie-se uma redução de 90% das emissões até 2050, com contribuição de todos os modos – rodoviário, ferroviário, aéreo, marítimo e por vias navegáveis interiores. Ana Paula Vitorino lembrou que a AMT tem elaborado vários documentos que contribuem decisivamente para a sustentabilidade do setor, nomeadamente: orientações para a elaboração de um programa nacional de mobilidade sustentável; obrigações de serviço público verdes; e descarbonização nos portos, transporte marítimo e por vias navegáveis interiores.
Descarbonização do setor é urgente: Transição energética é prioridade
O estudo 'Descarbonização nos Portos, Transporte Marítimo e por Vias Navegáveis Interiores' é de superior importância, uma vez que o transporte marítimo de mercadorias é um elo crucial e estruturante do fenómeno logístico global. Sem o contributo do Shipping, responsável pela maior fatia do bolo do transporte de cargas a nível mundial, o sistema logístico e comercial, como o conhecemos, não existiria. De acordo com a IMO, as
emissões de GEE no Shipping poderão aumentar até 130% até 2050 em relação aos dados de 2018. A IMO admite que será difícil alcançar a redução de GEE para 2050 somente por via de tecnologias de poupança energética e redução de velocidade dos navios: uma grande porção terá de resultar da utilização de combustíveis alternativos hipocarbónicos. Neste aspeto, também a aposta na transformação energética nas infraestruturas portuárias e a aposta nas vias navegáveis interiores pode ser fulcral para uma evolução 'verde' do setor.
No documento, são elencadas diversas recomendações destinadas ao Shipping e portos marítimos:
- Cumprimento do normativo nacional e internacional aplicável em matéria de descarbonização dos transportes;
- Atuação nos fóruns internacionais, designadamente na IMO e UE;
- Iniciativas legislativas e/ou regulamentares; ferramentas de gestão territorial e planos estratégicos oficiais;
- Adesão às boas práticas de descarbonização e concretização de planos de eficiência energética;
- Aposta nos trunfos oferecidos pela Digitalização;
- Implementação de incentivos e financiamento
Equilíbrio de fatores é vital para prosperidade do Shipping
A AMT defendeu ainda a importância de defender o setor marítimo-portuário das distorções de mercado, que, como a prática vem demonstrando, são suscetíveis de colocar os operadores de transporte marítimo ou os portos em desvantagem em relação aos seus concorrentes. Segundo a AMT, a equilibrada correlação de forças entre a sustentabilidade ambiental, a compliance e a procura económica é absolutamente essencial para um futuro de transporte marítimo competitivo, equitativo e resiliente.