O ano de 2025 já arrancou e, com ele, novos horizontes se perfiguram e diferentes desafios esperam os agentes económicos que integram o setor logístico. Especiais mudanças deverão ocorrer no universo do Shipping global, a reboque da transformação estrutural das alianças marítimas. Esta expectável revolução desencadeará mudanças na correlação de forças entre players e nas interdependências que, de forma vertical, se vão consolidando nas cadeias de abastecimento que dão corpo ao Comércio Internacional.
À cabeça, o desmantelamento da aliança 2M, que agregava as duas maiores companhias de Shipping do mundo (a Maersk Line e a MSC), será um dos maiores catalisadores da mudança em 2025. Dez anos depois, as duas transportadoras marítimas seguem rumos distintos, assim despoletando novas movimentações estratégicas no setor; o ano arranca sob a égide da incerteza, adensada pelo fantasma da greve nos portos da costa leste dos EUA, a tomada de posse do controverso Donald Trump e a aproximação do Novo Ano Chinês.
Alianças marítimas: as peças do puzzle começam a encaixar-se
A nova face das alianças marítimas, que ficará clara neste arranque de 2025, conduzirá à reconfiguração das rotas comerciais e a ajustamentos na capacidade disponível. Como optimizarão as suas operações os grandes armadores, de 2025 em diante? Esta é uma das questões mais centrais, e que terá resposta quando o puzzle geoestratégico final estiver completo. A Premier Alliance, a Cooperação Gemini, a Ocean Alliance e a solitária (mas poderosa) MSC começam já a encaixar as peças deste intrincado puzzle.
- Premier Alliance - A aliança tripartida entre a ONE, a HMM e a Yang Ming, visando oferecer serviços de porta-contentores diretos de ponta a ponta na rota comercial transpacífica e nas rotas comerciais Ásia-Europa. A aliança de 5 anos centrar-se-á nas principais rotas comerciais Este-Oeste, incluindo Ásia-Europa, Ásia-América do Norte e Ásia-Mediterrâneo. A parceria proporcionará cerca de 80 escalas portuárias destinadas a aumentar o serviço de rede para satisfazer as necessidades dos clientes. Também fará parceria com a MSC no comércio Ásia-Europa a partir de 2025, oferecendo nove serviços que visam aumentar a cobertura portuária direta e as viagens dos navios.
- Cooperação Gemini - A Hapag-Lloyd e a Maersk celebraram uma nova colaboração a longo prazo que se propõe a oferecer uma rede oceânica flexível e interligada com uma fiabilidade de horários líder na indústria superior a 90% para serviços ao abrigo do conjunto de rotas Gemini. A parceria, anunciada em janeiro de 2024, foi alvo de inquérito por parte da Comissão Marítima Federal dos EUA (FMC). Posteriormente, a FMC suspendeu o seu lançamento, na pendência da divulgação de informações adicionais necessárias para determinar o impacto concorrencial desta nova aliança. A Gemini Cooperation pretende fornecer redes alternativas para as suas operações caso as perturbações no Mar Vermelho continuarem. Em 2025, acrescentarão uma rede de serviços Este-Oeste para ligar a carga através das principais rotas comerciais, e a rede do Cabo da Boa Esperança será introduzida gradualmente em fevereiro de 2025. A rede contará com 29 serviços principais, 28 serviços de vaivém e cerca de 340 navios com uma capacidade total de 3,7 milhões de TEU.
- Ocean Alliance - Lançada decorria o ano de 2017, manterá a sua estrutura até Março de 2032 (após extensão da parceria), integrando a COSCO Shipping, a Evergreen Line, a CMA CGM e a OOCL. Estas companhias marítimas operam, tudo somado, uma frota dotada de uma capacidade de cerca de 8,4 milhões de TEUs, o que representa 29,6% da capacidade global de contentores. Os seus serviços, destinos e rotas marítimas manter-se-ão estáveis, reproduzindo as configurações já existentes.
- MSC - A companhia helvética deixou a 2M para seguir o seu caminho sem amarras ou co-dependências: passando agora a atuar no mercado de forma totalmente independente, aplicando maior flexibilidade e controlo às suas ofertas e serviços. A sua rede de serviços, já anunciada, abrange cinco rotas estruturantes constituídas por 34 itinerários, incluindo sete para a Ásia-Norte da Europa e seis para a Ásia-Mediterrâneo, quatro para a Costa Oeste da Ásia-América do Norte, seis para a Costa Leste da Ásia-América do Norte e 11 para o comércio transatlântico.
A estabilidade da Ocean Alliance permitirá tornar esta aliança uma espécie de 'cabeça de série' deste jogo de Shipping global: com uma frota alargada e uma quota de mercado assinalável, liderará tendo a proximidade da Cooperação Gemini, que alberga a poderosa Maersk Line. A MSC, apesar de solitária, apresentará argumentos para disputar, taco a taco, os volumes transportados por todo o globo. Em quarto lugar na grelha de partida estará a Premier Alliance. Espera-se um ambiente concorrencial maior, que, esperam os operadores logísticos e transitários, conduzirá a uma maior competitividade de serviços, tempos de trânsito e preços do frete.
Shipping global em 2025: o mercado ganha uma nova anatomia
Um primeiro olhar para a reconfiguração das alianças marítimas deixa antever uma cobertura geográfica mais eficiente, uma quantidade de serviços superior a 2024 e flexibilidade de opções (e, possivelmente, de preços) para carregadores e transitários. Habituados a inesperados episódios de disrupção global, os transitários vêm sendo onerados com diversos constrangimentos (desde a pandemia, passando por diferentes conflitos militares ou crises inflacionárias) que subiram custos e dificultaram o regular fluxo de cargas. O desintegrar da 2M poderá elevar os índices de competitividade do mercado e diluir o domínio que esta antiga aliança exercia.
Se a MSC apostará em serviços porto-a-porto, alianças como a Gemini ou a Premier Alliance focar-se-ão num número mais reduzido de rotas, contudo, mais fiáveis. Será essencial entender como irão as alianças gerir as blank sailings e a introdução de novos navios no mercado, uma vez que a serão estes elementos a revelar qual o espaço disponível nas rotas mais vitais. Espera-se, contudo, mais espaço disponível para os carregadores, mas será avisado apostar na diversificação de armador/aliança marítima. A MSC deverá dominar nas conexões Ásia-Europa e Ásia-Mediterrâneo, ao passo que a Ocean Alliance deverá liderar na faixa comercial Ásia-América do Norte.